Rio de Janeiro, 12 de Junho de 2000.
Estou aqui senhoras e senhores!!!!E não tenho muito tempo para ser exato. Não sei ao certo, talvez ,meia hora ou um pouco mais que isso.
A real é o seguinte, Sandro está morto.
A mesma Educação que quase matou Sandro na candelária matou Sandro hoje aqui, na minha frente. Senhoras e senhores Sandro está morto queiram se aproximar e com suas sedes, fomes de emoção queiram matar o meu menino esse ser que carrego aqui dentro de mim.
Esse menino estava fora de si é bem verdade; nada que uma boa combinação de drogas, falta familiar, e esse desapontamento com a vida, possa dar.Meu menino podia ter vencido na vida, mas essa alma não conseguiu sair desse abismo, essa vala que põe os menores, os pobrezinhos, os vagabundos e miseráveis, os incompreendidos, mas Sandro não era nada disso.
Era um garoto de vinte e pouco anos que havia feito réfem um ônibus inteiro
(leia-se 10 pessoas). E aos olhos dos demais seria morto. Só de ver, percebi. Ele já estava fora. Não iria muito longe, mas o inconsciente tratou de apagar e nada além da esperança e desespero habitava o meu coração.No fundo eu sabia. Aquele desfecho.Não seria nada, bom.
Por outro lado eu sou mãe e mãe tem esperança, roga por seus filhos sempre.Sempre.
Helicopteros, câmeras de televisão, a população toda na expectativa, a policia muitas armas, um esquadrão para desarmar, desarticular, desmantelar, a minha criança. O Brasil estava vendo, talvez o mundo.
Sempre. Sempre tenho esperança, sou mãe. E mãe sempre roga pelos seus filhos.
Começou, então ser liberados alguns réfens. E a medida que as pessoas iam saindo minha aflição aumentava.
– Meu Deus, cuida do meu Sandro. – E faz com ele saia bem dessa tortura.
Todo o perímetro estava cercado e cada segundo parecia que havia sido pregado.Não passava,a muito custo suportava tudo aquilo.
Tudo era muito confuso na minha cabeça.
- Delegado já m..... e vou m..., em mais gente, eu quero, um m.... para liberar todo m...
- E vou querer um carro também.
- Cara, estou fazendo o que aqui com essa mulher,com essa gente toda desesperada e com medo de mim,
- Estou apavorado e armado.
- Delegado, cadê o que pedir, vou começar a fazer o que falei.
- Caracas esse negócio, não termina.
-Vou começar contar aqui até 100, depois você sobra.
1, 2, 3 e 20, 23, 25, 86, 96.
100. Abaixa ai logo, vamos!!! e ...
- Delegado já começou e só vou terminar depois que tiver o que foi pedido.
- O que foi que pedi, mesmo?
Bem senhoras e senhores estamos aqui diretamente do Oscar 2009 com diretor brasileiro que foi indicado ao Oscar com o filme mais polêmico do ano que horrorizou os franceses. O filme que se baseiou na história do Alessandro que foi morto asfixiado pela policia, logo depois de matar com três tiros a sua refém que recebeu um tiro da policia num ato precipitado.
- Meu Deus tira meu Sandro dali, ai não estou me sentindo bem ...
- Falando diretamente do local.Ao que parece o sequestrador esta saindo exatamente nesse momento do ônibus junto com a refém.
- Há uma quantidade grande de pessoas aqui assistindo e esperando o desfeixo dessa história triste.
- O Oscar 2009 vai para ...
O assaltante saiu do ônibus com a refém e recebeu um tiro, mas três tiros são disparados a refém está no chão, a população avança contra o meliante, a policia toma o sequestrador que depois de imobilizado e levado para a viatura é asfixiado.
O mal foi desfeito, a população se acalma, a refém morta, os policiais pouco depois serão julgados e inocentados, a televisão ira transmitir e martelar a cabeça de seus telespectadores.Irão se questionar a violência e se falar muito a respeito.
Sandro não terá sido nada, mais uma estatística da nossa má educação ou falta desta, enquadrada em páginas policiais.
Um abraço, meu querido Sandro.
O diretor brasileiro deu entrevista hoje.Disse, que o filme relata um aspecto da nossa sociedade.
Sandro meu filho, descanse agora.
Lourdes Maria
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